Piores Que Crack: O Que São As ‘Drogas K’?

Uma droga inédita está se disseminando perigosamente pelas vias públicas de São Paulo, causando efeitos extremamente nocivos aos usuários que a consomem.

Tem a aparência de um cigarro comum, produzido artesanalmente, mas é na composição deles que reside a distinção. A substância comercializada em frascos é identificada pela letra "K", seguida pelos números 2, 4, 9 ou 12, ou ainda pelo termo em inglês "spice", que significa "tempero". Apesar dos distintos nomes, trata-se da mesma substância.

Imagens capturadas por voluntários de uma organização não governamental que atua há quatro anos no atendimento de jovens em situação de rua na cidade de São Paulo, expõem os efeitos devastadores da substância conhecida como K em crianças com até oito anos de idade e adolescentes.

Vania Lúcia Da Rocha Coutinho, coordenadora do Projeto Gente de Perto, relata que o efeito dessa droga pode durar horas, e os indivíduos frequentemente apresentam uma postura instável, com dificuldade em responder. 

Ainda segundo Vania, parece que o cérebro do usuário sofre uma paralisia momentânea, deixando-os incapazes de reagir. 

Além disso, vômitos e náuseas são um dos efeitos mais recorrentes. Apesar de tentarmos alimentá-los, sabendo que estão dias sem comer: “tudo o que eles comem, eles colocam para fora", relata Vania Lúcia.

Vídeos compartilhados em plataformas de mídia social expõem reações físicas ainda mais intensas. Segundo Thiago Marques Fidalgo, psiquiatra e professor da Universidade Federal de São Paulo, essas substâncias foram desenvolvidas em laboratórios no início dos anos 2000.

“A ideia, muitas vezes, por trás dessas maconhas sintéticas - que são várias -, era de que fossem fármacos, de que fossem medicamentos, com estrutura química semelhante à da maconha, mas que tiveram seu uso deturpado pelo potencial de prazer e de abuso e acabam se tornando drogas”, disse o psiquiatra.

Os primeiros indícios do uso da substância K no Brasil emergiram aproximadamente um ano atrás. Desde então, as ocorrências de apreensão da droga tornaram-se um acontecimento diário em São Paulo.

Intoxicações pela droga L não param de crescer em SP — Image: JN

Os efeitos nocivos da droga K já se manifestam na rede pública de saúde. No ano de 2022, a Prefeitura de São Paulo identificou 98 casos de intoxicação pela substância. 

Contudo, de janeiro até o momento atual, o número subiu para 216, mais que o dobro. 

O aumento exponencial levou a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo a emitir uma nota técnica com instruções para os profissionais da saúde sobre como lidar com indivíduos que apresentam sintomas decorrentes do consumo da droga K.

Na cidade de São Paulo, uma quantidade significativa de usuários de drogas sintéticas, que sofrem de dependência química, se congregam na Praça da Sé. Durante o dia, os agentes da prefeitura se deslocam para a área com o objetivo de fornecer auxílio a esses indivíduos.